No românico, a pintura e a escultura surgiram quase sempre ligadas à considerada, na época, a expressão
artística que incorpora o absoluto divino: a arquitectura. Por consequência, as primeiras duas formas de
expressão vão desenvolver-se como partes de um programa arquitectónico: a escultura como instrumento
decorativo tridimensional, desenvolvendo-se, por exemplo, nos capitéis e nos portais, e a pintura como
instrumento de decoração de interiores bidimensional. Desta maneira, estas três formas de expressão artística
vão unir-se numa simbiose com um único objectivo: comunicar aos fiéis as verdades da fé.
Relativamente à temática, esta era decidida pelos teólogos da época; as obras estavam quase sempre
conexas aos temas da igreja, tentando ser, dessa maneira, uma revelação de Deus. Por conseguinte, para cada
tema tudo devia ser previamente definido, obedecendo a uma organização simbólica (por exemplo, a
representação do Cristo Pantocrator ocupa sempre a abside central).
As condicionantes impostas pela igreja levaram a que as representações sofressem alterações formais
profundas relativamente ao que se tinha visto anteriormente. Primeiramente, os realizadores destes programas
artísticos eram sobretudo monges especializados no campo da escultura e da pintura que dominavam as
condicionantes e limitações impostas, tentando integrar as imagens à situação existente. Desta maneira, as
imagens eram concebidas tentando estabelecer uma articulação perfeita com o espaço e com a forma
preexistentes, o que resultou na dissolução de cânones, uma vez que as imagens se adaptavam sem ter em vista
nenhuma regra formal. O resultado é a submissão a esquemas de natureza abstracta (próprios da arquitectura).
A perda do realismo nestas obras é, portanto, evidente; contudo não resultou em nenhum problema, uma vez
que o objectivo era uma representação conceptual, não uma representação óptica e realista.
A nível mais geral, esta alteração formal trouxe desde maior expressividade e acentuação do conceito
(com a deformação das formas), mais movimento (com a adaptação da imagem à forma arquitectónica) e
Gonçalo Vaz de Carvalho - 2008
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retomou o conceito de perspectiva hierárquica, em que as figuras se apresentam proporcionadas e distribuídas
consoante a sua importância.
Na pintura românica assiste-se a uma aproximação à arte oriental. A nível formal, assiste-se ao
predomínio do desenho e à experimentação de novos jogos de cores. Com a dissolução do realismo, a pintura
assimila fortemente os símbolos sagrados tradicionais, que se tornam no veículo de transporte da verdade da fé.
Desta maneira, a pintura torna-se numa forma de escrita (“A imagem é a escrita dos iletrados”, Papa Gregório,
séc. VI), comunicando através de ícones. A imagem ganha funcionalidade, sendo entendida como um “texto”
figurativo para ser “lido” pelos crentes.
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